quinta-feira, 29 de maio de 2014
Mas ninguém sabe de minhas guerras internas. Das intermináveis lutas que fazem de meus átomos bombas atômicas prestes a explodir em um milhão de estrelas. Ninguém sabe que, nesses dias, o céu é só um fragmento da minha tristeza. Conto-lhe sobre as granadas que estouram em silêncio, sobre os meus sonhos mortos pelo gatilho das palavras e sobre o caos que se instala em mim sem ninguém saber. Tento esconder os conflitos, instaurar o poder e cicatrizar minhas dores de combatente. Mas sinto-me sem arma, sem alma, sem amor. Ah, se pudesse desistir antes de entrar em campo de batalha. Se pudesse batalhar bravamente antes de perder as cores na Guernica pintada à mão em meu peito! Mas só há guerras: mundiais, frias ou troianas. Que duram cem anos e me deixam em farrapos, de onde não sairá nenhum vencedor. Se mortes acontecem, não existe sucesso. Só há revoluções fracassadas pelos seus banhos de sangue: francesas, inglesas e russas para uma estrangeira longe da pátria e que não consegue mudar os rumos de sua vida sem atingir uma pessoa inocente. Ninguém nunca se acha em combates, afinal. Só se perde. Vidas, memórias e estrelas cadentes que deram lugar as bombas. Amores, esperanças e vôos de pássaros que fugiram com medo das sirenes. Mas ninguém sabe das tristezas que constroem cercas ao redor do que floresce entre a fumaça e os destroços. Do que sobrou entre as flores e famílias despedaçadas. Ninguém sabe do cheiro de infância nos uniformes dos tantos mortos. Das constelações que perderam o brilho para os tanques de guerra, mas que mantiveram o amor estrelado de quem acredita na restauração. De quem acredita na alegria que há depois dos tiros, por simplesmente alcançar-se o silêncio. Na paz desarmada que toma nosso peito, que se apodera de nossa voz e grita o que nem a ditadura pode impedir. De quem acredita no mundo emoldurado na parede dos sobreviventes e na poesia que supera todos os holocaustos. As pessoas sabem do que os livros lhes contam, mas não das mínimas histórias que se perderam entre canhões e espadas. É assim conosco também: sempre há um combate cósmico por trás de nossas pupilas, com sonhos e dores tão astronômicos que nenhuma destruição em massa conseguirá apagar. Mas ninguém sabe de nossas guerras internas, e só nos resta lutar para não morrer todos os dias. Para manter viva, como quem planta em terras áridas a mais bela flor, a nossa rosa de Hiroshima.
Via:Universos
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Quem sou eu
- Diana Rafaele
- Meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei.
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