quinta-feira, 24 de julho de 2014
A gente passa, a gente olha, a gente pára
e se extasia.
Que aconteceu
com esta cidade
da noite para o dia?
O Rio de Janeiro virou flor
nas
praças, nos jardins dos edifícios,
no Parque do Flamengo nem se fala:
é
flor é flor é flor,
uma soberba flor por sobre todas,
e a ela rendo meu
tributo apaixonado.
Pergunto o nome, ninguém sabe. Quem responde
é Baby Vignoli, é Léa
Távora.
(Homem nenhum sabe nomes vegetais,
porém mulher se liga à
natureza
em raízes, semente, fruto e ninho.)
Iúca! Iúca, meu amor deste verão
que melhor se chamara
primavera.
Yucca gloriosa, mexicana
dádiva aos canteiros
cariocas.
Em toda parte a vejo. Em Botafogo,
Tijuca, Centro, Ipanema,
Paquetá,
a ostentar panículas de pérola,
eretos lampadários, urnas
santas,
de majestade simples. Tão rainha,
deixa-se florir no alto,
coroando
folhas pontiagudas e pungentes.
A gente olha, a gente estaca
e
logo uma porção de nomes populares
brota da ignorância de nós todos.
Essa
gorda baiana me sorri:
– Círio de Nossa Senhora… (ou de Iemanjá?)
– Vela
de pureza, outra acrescenta.
– Lanceta é que se chama. – Não, baioneta.
–
Baioneta espanhola, não sabia?
E a flor, que era anônima em sua
glória,
toda se entreflora de etiquetas.
Deixemo-la reinar. Sua presença
é mel e pão de sonho para os olhos.
Não
esqueçamos, gente, os flamboyants
que em toda sua pompa se
engalanam
aqui, ali, no Rio flóreo.
Nem a dourada acácia,
nem a mimosa
nívea ou rósea espirradeira,
esse adágio lilás do manacá,
esse luxo do ipê
que nem-te-conto,
mais a vermelha aparição
dos brincos-de-princesa nos
jardins
onde a banida cor volta a imperar.
Isto é janeiro e é Rio de Janeiro
janeiramente flor por todo lado.
Você
já viu? Você já reparou?
Andou mais devagar para curtir
essa inefável
fonte de prazer:
a forma organizada
rigorosa
esculpintura da natureza
em festa, puro agrado
da Terra para os homens e mulheres
que faz do mundo
obra de arte
total universal, para quem sabe
(e é tão
simples)
ver?
Autor: Carlos D. de Andrade
Marcadores:Carlos Drummond de Andrade
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- Meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei.
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